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Just Be

A vida depois do diário, que aqui partilhei ao longo de um tempo. Aqui vou continuar a partilhar "coisas" da vida e do que me rodeia. Viver, é agora a palavra de ordem.

Just Be

A vida depois do diário, que aqui partilhei ao longo de um tempo. Aqui vou continuar a partilhar "coisas" da vida e do que me rodeia. Viver, é agora a palavra de ordem.

28
Abr20

O que o Covid-19 já me ensinou

Just Be

Este vírus têm sido uma espécie de livro de motivação, senão vejamos o que ele já fez comigo:

- Criei rotinas, após umas 2 semanas de procrastinação, quando percebi que isto estava para durar, fui-me um pouco abaixo, mas por saber isso mesmo, tive que me obrigar a lutar e tenho conseguido coisas que andei dois anos a tentar.

- Comecei a levantar-me muito mais cedo, estilo 6 da manhã, e faço todo um ritual, incluindo 20 minutos de meditação com os primeiros raios de sol.

- Por volta das 9:00 da manhã já fiz imensas tarefas, tenho muito mais energia durante  dia e sou muito mais produtiva. E, eu era uma pessoa que dizia que jamais me conseguiria levantar a tais horas, pois considerava-me nótivaga.

- Aprendi a ver, sim a ver. A contemplar cada pormenor, coisas que nem reparava, mas que estavam aqui em casa junto a mim. Como o desabrochar de um botão de uma flor.

- Faço refeições deliciosas, mesmo que sejam só para mim. Acho que se isto continua, ainda acabo como a Lili Caneças, e visto uma roupa toda XPTO, coloco uma mesa linda e depois num prato da minha melhor baixela(estou a brincar, nem tenho) umas Lulas recheadas com arroz.

- Aprendi a importância da falta de contacto humano, tenho saudades de abraçar o meu pai, e o pior é que não me lembro do ultimo abraço que lhe dê. Mas não posso, porque ele é de extremo risco. Tem todas as doenças das pessoas consideradas de risco, podia só ter uma, mas como ele é o máximo, tem todas. Amo-te muito pai. És uma uma força da natureza, ainda te vou dedicar um post, porque tu mereces.

- Aprendi vários significados: Resiliência, Adaptação, Paciência, Criatividade, etc

- Aprendi a gostar mais de mim, afinal de contas tenho que conviver comigo diariamente.

- Aprendi o fenómeno do Teletrabalho e também estou a tentar que resulte, apesar de ser um negócio e portanto neste momento, só há uma maneira de o trabalhar: através das redes sociais.

- Tenho que apreender coisas novas todos dias, pois como percebi que o meu negócio daqui para a frente só funciona através das redes sociais, ando a absorver tudo o que posso, a seguir perfis, dicas de como se constrói algo do zero, e espero a partir de Maio iniciar uma nova revolução no Instagram, que só usava para fins lúdicos, e que para usar para fins profissionais, tem muito que se lhe diga.

Bem este post já vai longo...Vou aqui deixando noticias das minhas novas aprendizagens.

E vocês já aprenderam alguma coisa? Contem-me tudo.

Aprendi que um estendal não tem que necessariamente ser só para estender roupa, e que talvez esteja a ter comportamentos infantis, mas não sei.

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Foto: Varanda da Loucura

23
Abr19

Segundo dia de radioterapia

Just Be

Olá meus seguidores e seguidoras,

 

Após uma noite mal dormida, levantei-me e olhei para o espelho e tinha os olhos vermelhos e umas belas olheiras.

 

Tomei um duche e preparei-me para o pequeno almoço. Após o pequeno almoço fui a uma visita organizada pelos voluntários do IPO e fomos conhecer a casa onde Bissaya Barreto viveu e de seguida fomos visitar o jardim botânico.

 

O dia começou muito cinzento, mas o sol resolveu aparecer e brilhar com todo o seu esplendor. O céu agora era de um azul celeste e as fotos ficaram lindas devido à magia do luz e da cor.

 

De regresso ao IPO, era hora de almoço e que almoço, uma massa com carne rija que me deixou enjoada o resto do dia. 

 

Fiquei mesmo mal disposta, mas disposta a sair dali para fora. Quando começo a ver todas as ambulâncias que trazem os doentes para os tratamentos, comecei a ver de onde vinham elas, pois trazem o nome do lugar de onde vêm. E de repente a vontade de sair dali e de estar com as minhas gatas em casa deu-me uma excelente ideia, porque não ir e vir todos os dias. Afinal não há nada melhor que o conforto do nosso lar e da nossa caminha. A ideia foi crescendo e resolvi por pés a caminho e saber se era possível. E sim, era mesmo. O médico autorizou por isso a partir da próxima semana já posso dormir em casa.

 

Entretanto fui para a segunda sessão e estive 2 horas à espera. Lá seguimos todo o ritual e começou novamente os tão demorados 15 minutos. Mas desta vez a máquina bateu com mais força no cotovelo e tiveram mesmo que parar, reposicionar e voltar ao inicio. Isto deixou-me preocupada, pois se bateu as medidas estarão correctas? Estarão a irradiar onde deviam? Estas inquietações começam a minar os meus pensamentos. Se voltar a acontecer terei que falar com o médico pois começo a ficar preocupa, para além do normal.

 

Voltei para jantar e comi muito pouco, pois ainda estava muito agoniada desde o almoço. Depois fui para a biblioteca que é um espaço muito agradável e por alguma razão nunca lá está ninguém. Relaxei um pouco e de seguida fui dormir ou pelo menos tentar...

 

....e mais uma vez não consegui...

 

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22
Abr19

Primeiros dias de radioterapia

Just Be

Olá a todo(a)s

 

Estou na primeira semana de radioterapia, 

 

No dia em que estou a escrever este post já fiz 2 tratamentos. Assim, já só faltam 18 para terminar esta nova etapa.

 

Dia 18 de Fevereiro foi o primeiro dia, estava a chover e fiz a viagem de carro ao som do rádio, alternando entre estações. Quando cheguei, fui avisar que já cá estava e descarreguei a bagagem para o "hotel" do IPO. Depois fui arranjar lugar de estacionamento não muito longe e de seguida fui logo para o serviço de radioterapia. 

 

Esperei um pouco e de seguida veio um auxiliar que me explicou todos os passos de como seria a partir desse dia, como horários e o que deveria fazer antes e depois de cada sessão. Explicação dada, fui-me preparar para a primeira sessão. Despir roupa e colocar uma saia de algodão muita gira e um lençol embrulhado à volta das costas e estava pronta para o desfile.

 

Depois fui para a sala e fiquei assustada com o tamanho da máquina e pensei: não entres em pânico, não entres em pânico, não entres em pânico...é só uma máquina gigante. Mas o coração já estaria a mais de 100.

 

Seguiu-se o posicionamento naquela superfície sólida, o que me custou bastante, devido à escoliose que tenho.

 

Após uns minutos estava preparada e disseram para não mexer, tossir ou fazer qualquer movimento. Podia apenas respirar.

 

Resolvi fechar os olhos e relaxei por uns minutos. A certa altura sou assombrada por um pensamento assustador: e se esta máquina me cai em cima? esmaga-me de imediato. Tentei manter a calma, mas senti que o coração acelerou perante aquela impossibilidade.

 

Entretanto senti a máquina a bater no meu cotovelo esquerdo, mas foi de leve e lá andou e bateu de novo. Não sabia muito bem o que fazer e por isso mantive a calma e passados longos 15 minutos a sessão terminava. Foi uma eternidade, nunca quinze minutos tinham passado tão devagar.

 

Regressei ao hotel e era hora de jantar, e eis que me aparece à frente um arroz de feijão preto com entrecosto no forno. Comi muito pouco, pois não estou habituada a este tipo de comida ao jantar. Diria que é demasiado pesada para quem vai dormir.

 

Fiquei num quarto com 3 camas e uma casa de banho. O roupeiro era muito pequeno, não cabia uma mala de viagem de cabine de avião. Teve que ficar cá fora no chão. Tentei arrumar as minhas coisas o melhor possível. Na casa de banho já não havia toalheiros para mim, pois os únicos 2 que existiam já estavam ocupados. Sem problema pendura-se num cabide que estava na parede.

 

No final do dia ficámos um pouco à conversa e depois fomos dormir. Estava cansada devido à viagem e a todos os acontecimentos daquele dia e pensava que ia dormir imediatamente. Errado. A cama era muito desconfortável e as minhas colegas iam muito à casa de banho e passavam junto à minha cama. Passei a noite toda a adormecer e a acordar. 

 

Preciso de dormir...

 

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18
Abr19

A preparar-me para mais uma etapa

Just Be

Olá a todo(a)s

 

Hoje, dia 13 de Fevereiro, faz exatamente 2 meses que fui operada. 

 

E venho partilhar um pouco do que sinto nesta altura e do que ainda me espera.

 

Após a cirurgia tenho "corrido todas as capelinhas" ou seja tive que me deslocar a Coimbra para 3 consultas de especialidades diferentes. 

 

A radioterapia começo a fazer na próxima 2ª Feira dia 18 de Fevereiro. Estou assustada? Sim, um pouco, porque não sei como a minha pele hipersensível vai reagir. 

 

Os meus planos para o próximo mês são os seguintes:

 

Fazer caminhadas diárias junto ao Mondego

 

Ler alguns livros que já selecionei

 

E escrever aqui o que se vai passando.

 

O resto vou descobrindo à medida que os dias vão passando.

 

Mas os planos, são apenas isso mesmo, planos. Porque espero que tudo corra pelo melhor.

 

Agora está na hora de preparar toda a logística para esta nova etapa. E desejem-me sorte.

 

E vou ter mais uma ponte para atravessar.

 

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15
Abr19

Já tenho Tatuagens

Just Be

Olá a todo(a)s

 

Cá estou eu, para atualizar o meu diário e contar as ultimas novidades

 

Incluindo as minhas primeiras tatuagens

 

Esta semana já tive 2 consultas, a de cirurgia que foi para ver como tinha ficado o trabalho artístico da cirurgiã que está de parabéns, pois as cicatrizes estão magnificas. Esta cirurgiã utiliza uma técnica de pontos internos, sem agrafes ou pontos externos e de facto se no inicio me fez confusão, posso agora dizer que estou muito satisfeita.

 

Dois dias depois tive a consulta de radioterapia e para minha grande surpresa, fui recebida por um simpático médico, o primeiro médico desde que comecei este processo. Até agora só me tinha cruzado com médicas, parece que os médicos estão em via de extinção.

 

Depois fui fazer analises e uma TAC e as respetivas marcações para a radioterapia. E como são feitas estas marcações? Com pequenos pontos, que são umas tatuagens. Eu, ainda pedi se podiam fazer uma borboleta ou um gato, mas eles disseram que só conseguiam fazer pontos. Já disse que deveriam ir tirar um curso. Afinal esperei tantos anos para fazer uma tatuagem e quando faço são 6 pontinhos. Estes pontos vão servir de guia para a posição que irei estar na radioterapia. Também percebi que tenho os braços grandes, porque tiveram que ajeitar de maneira que passem na máquina e devo dizer que estar naquela posição durante cerca de 15 minutos, sem pestanejar, e que foi meticulosamente estudada não vai ser fácil. Ao fim de 5 minutos já tinha o braço dormente devido à coluna. Mas espero que consiga. Depois vos digo, quando começar os tratamentos.

 

Queria um gato ou uma borboleta, mas se escolhesse seria esta:

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12
Abr19

O que não dizer a quem tem cancro

Just Be

Olá a todo(a)s

 

Hoje venho falar aos amigos e familiares de doentes oncológicos

 

O papel dos familiares e amigos é fundamental, mas em alguns casos não o fazem da melhor maneira, mesmo pensando que estão a ajudar.

 

Evitem os seguintes comentários: 

 

Isso não custa nada. Eu falei com este e aquele e não custa nada. - A pessoa pode falar em nome próprio se passou pelo mesmo e quando muito dizer, por acaso a mim essa parte não me custou muito. Como já disse, cada caso é um caso. E só quem passa pelas situações é que sabe.

 

Isso hoje em dia cura-se tudo - A sério, então porque morrem algumas pessoas. Não relativize ou desvalorize a doença do outro, especialmente quando é cancro. 

 

Não te preocupes, vai tudo correr bem - Não diga, tem uma bola de cristal?

 

Para quem está a fazer quimioterapia não pergunte se já começou a cair o cabelo, aliás não pergunte nada sobre os sintomas, deixe que seja a pessoa a falar.

 

Não dê palpites do que ela deve ou não fazer, só porque alguém lhe contou ou leu na Internet. Para isso servem os profissionais de saúde.

 

Não compare com outras pessoas que tiveram cancro, porque cada cancro é único. 

 

Não pergunte se precisa de ajuda. Simplesmente ajude. Leve comida a casa no pós operatório, faça visitas, mas não espere que a pessoa aceite ajude se perguntar antes. A pessoa não quer incomodar ninguém.

 

Devias fazer isto ou aquilo, tens que sair, tens que trabalhar, tens... Não diga isto, porque cada um sabe como se sente estes palpites por vezes funcionam de forma inversa em algumas pessoas, pois sentem-se ainda mais pressionadas.

 

Para finalizar fale menos e aja mais. Como disse anteriormente, leve comida à pessoa, faça visitas e companhia, tentando falar de outros assuntos que não o cancro. Fale com outros elementos da família e amigos e tentem fazer companhia à vez. Tente não falar de cancro, deixe que a pessoa fale. Envie mensagens, vídeos divertidos durante o dia. Aliás faça tudo o que possa distrair a pessoa que está doente.

 

Dê mais amor e menos palpites

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03
Abr19

E já estava de saída

Just Be

Olá a todo(a)s,

 

Hoje era o dia que 

 

Ia sair dali para fora e estava eufórica

 

Isto só mostra o quanto gostei de ali estar. Após mais uma noite sem dormir, lá vem a rotina matinal. Medicação...esperar por vez no banho, fiz 3 tentativas mas estava sempre ocupada...acabei por tomar o pequeno almoço primeiro e depois tomei apenas um banho muito rápido, afinal ia para casa e depois tomava um a sério, o cabelo estava oleoso, mas nem quis saber, depois lavava. De seguida veio a enfermeira fazer o penso e tirar o segundo dreno, o outro tinha sido tirado no dia anterior e depois começar a tratar da alta. 

 

Naquela manhã estava tudo meio desanimado naquele quarto e começámos a falar da noite louca que tinha sido, em que uma senhora falou a dormir a noite toda. E dizia a outra: é que foi toda a noite. E quando ela diz isto, só me lembrei da musica do Toy "toda a noite" e nesta altura havia uma versão de natal da RFM e resolvi animar o pessoal e pôr tudo a cantar e a rir. Procurei no telemóvel e coloquei a musica bem alta. E nesse momento chegam as senhoras da limpeza, que nunca as tinha visto até esse dia e também começam a cantar e pronto o arraial ficou montado e depois repetiu-se e ficou logo tudo mais animado. 

 

A manhã passou e ao meio dia fui almoçar e agora só tinha que esperar pela minha boleia para voltar a casa. Não via a hora de chegar a casa e abraçar as minhas gatas.

 

A hora chegou, despedi-me de todas e segui viagem, rumo a casa. Quando cheguei as minhas gatas estavam cheias de saudades e eu delas, miavam muito, como se me estivessem a perguntar: Onde estiveste?

 

A seguir a matar as saudades com a minhas gatas, fui tomar um verdadeiro banho com todas as condições. A minha casa de banho é simples, mas comparada com a que tive nos últimos dias pareceu-me de luxo. Estava imensamente grata por ter aquela casa de banho maravilhosa. Apesar das dificuldades em tomar banho, porque não se pode molhar o penso, mas existe todo um malabarismo que nos foi ensinado no hospital, lá consegui concluir a tarefa com sucesso. Quando terminei senti-me verdadeiramente limpa, acho que até a alma foi limpa com aquele banho e com a roupa lavadinha.

 

De seguida fui logo lavar toda a roupa que trazia do hospital, não podia mexer o braço direito, e para que não o mexer dão umas almofadas em forma de coração para colocarmos debaixo da axila, para não nos esquecermos de que não podemos mexer o braço do cotovelo para cima, essa parte do braço tem que estar encostada ao corpo com o resto do braço podemos mexer devagar. Então mesmo só com a mão esquerda fiz logo várias máquinas de roupa e estendia com o braço esquerdo, o que demorou uma eternidade e todo um malabarismo...mas estava feliz e tinha todo o tempo do mundo. Até os chinelos lavei. Precisava de limpar tudo o que estivesse estado naquele lugar, no hospital. 

 

Depois jantei e fui descansar e finalmente após uma semana sem dormir, consegui dormir sem acordar durante toda a noite e soube-me tão bem. Foi como renascer de novo. Dormi 10 horas seguidas. Estava verdadeiramente exausta e finalmente tinha a minha cama, as minhas almofadas e o meu conforto e aconchego do lar, que me permitiram ter aquele sono reparador.

 

Esta imagem representa bem o que senti quando cheguei a casa. Não sou eu, esta rapariga é bem mais gira que eu, mas o gato é igual a uma das minhas. É uma imagem que representa bem o que senti de melhor quando cheguei a casa.  

 

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01
Abr19

Quando acordei

Just Be

Olá a todo(a)s

 

No ultimo post falei do dia antes da hora da cirurgia e hoje falar no

 

Momento em que acordei e dia seguinte.

 

Quando sai da cirurgia a caminho da sala do recobro estava plenamente consciente. Senti-me feliz...estava viva e não tinha dores. A minha primeira pergunta foi saber onde estava o relógio, o médico perguntou porquê? Ao que eu respondi, para saber que horas são. Eram 14.00, então eu disse: Estive 2 horas na sala. O médico foi confirmar e percebeu que eu estava bem acordada e consciente. Mas eu saio sempre das cirurgias bem acordada e com muitos tremores, que não consigo controlar, é o que os médicos designam de "Shivering" e tem que administrar algo para parar.

 

Cheguei à conclusão que era melhor estar a dormir, porque assim tive que assistir a tudo o que ali se passava, e mais não digo.

 

Passadas umas 2 a 3 horas vieram-me buscar para voltar para o quarto. Queria ir à casa de banho e propuseram-me a amiga "arrastadeira" que eu recusei de imediato, porque nunca me entendi com aquilo. Então perguntei quando poderia ir pelo meu pé à casa de banho. Responderam que tinha que esperar no mínimo 6 horas após saída do bloco, portanto só às 20.00. Então vou aguentar...disse a mim mesma com grande convicção. Eram 17:00 portanto só tinha que aguentar mais 3 horas. E às 20:00 lá fui eu...que alivio que senti. 

 

Depois tinha fome...mas não podia comer. Disseram que só por volta das 22.00 poderia comer umas bolachas e beber um chá. Já estava há 24 horas sem comer e fome já apertava. Comi conforme combinado, mas não fiquei satisfeita. 

 

Disseram que tinha que dormir, mas não conseguia, por vários motivos. O ressonar das colegas, o meu estômago que não parava de "roncar" e a fome que sentia. A certa altura não aguentei mais e toquei à campainha. Perguntaram o que se passava e eu disse que tinha muita fome e a enfermeira virou-se para mim e disse se aquilo eram horas para comer, eram 5 da manhã, devia era estar a dormir. A muito custo lá foi buscar umas bolachas. Devorei as mesmas em menos de nada...e continuava com fome. Não tinha dores...só tinha fome.

 

Finalmente chegou a hora do pequeno almoço e depois o almoço....e finalmente senti-me saciada. O que é estranho é que eu como pouco e depois da cirurgia estava com uma vontade de comer daquelas.

 

À tarde tive a minha primeira e única visita, porque também não deu tempo para ter mais, visto que saí logo no dia seguinte de manhã. E como eu costumo dizer "é atar e pôr ao Fumeiro" a verdadeira fabrica de chouriços.

 

Sobrevivi mais um dia....à noite por algo que ninguém percebeu estava tudo cansado e às 9 da noite, resolvemos apagar as luzes e descansar...ou tentar. Às 10 era a hora do chá e das bolachas e estava tudo às escuras naquele quarto...mas o que se passa aqui? perguntou a enfermeira estupefacta. E pronto toca  a acordar para mais não dormir.

 

Durante a noite uma ressonava, outra falava a dormir e uma terceira vira-se e diz: Quem é que está a falar ao telemóvel a esta hora? Não consegui dormir uma única noite enquanto ali estive. Mas esta era a minha ultima noite.

 

Amanhã já sai dali para fora.

 

O que fica deste período pós operatório é que eu queria comer e só me davam chá e bolachas. Mas não era tão glamoroso como este da foto.

 

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30
Mar19

Dia 13 - Chegou o Dia

Just Be

Olá a todo(a)s

 

O grande dia chegou e calhou-me logo o numero da sorte,

 

Dia 13 de Dezembro de 2018 é o dia da cirurgia

 

De manhã tomei o banho com o produto que me tinham dado no dia anterior, vesti a bata do hospital e já não pude comer nada. Esperei de forma tranquila na cama.

 

Entretanto vieram-me buscar para me levarem ao piso 0 para a colocação do arpão. E foi o momento mais cómico da minha estada no IPO. A cama não saia do quarto. E porquê? Porque o quarto foi programado para 4 camas e estavam 6. A minha cama não passava de maneira nenhuma entre as 2 camas mais próximas da porta. Batia em todo o lado e nessa altura deu-me um ataque de riso. Desmontavam partes das outras camas, desviavam, iam para a frente e para trás e nada. Parecia uma cena dos apanhados...era como se estivesse a tentar sair de um estacionamento e batesse em todos os carros que lá estavam. A enfermeira era uma cómica muito bem disposta e só refilava e a auxiliar tentava ajudar e após muitas manobras a cama lá saiu.

 

Já no piso 0 deixaram a cama num corredor e foram-se embora, dizendo que alguém me iria buscar. E ali estava eu à espera num corredor, onde passavam todas as pessoas não internadas que iam fazer RX, ecografia e outro tipo de exames. E sempre que abriam a porta da entrada sentia uma corrente de ar...de facto é um excelente sitio para se apanhar uma constipação ou ser alvo de contágio por parte de qualquer uma das pessoas que ali passava a tossir. A minha solução foi virar-me para o lado da parede e tapar quase por completo a cabeça. Senti-me verdadeiramente exposta. Aqui mais uma vez digo que a falta de humanidade para com os doentes é muito grande. O doente já está emocionalmente em baixo e ainda o deixam num corredor sozinho.

 

Passados uns minutos, alguém me veio buscar e fui para uma sala onde uma médica e uma auxiliar me anestesiaram localmente e com a ajuda da ecografia colocaram o arpão (um fio de metal) à volta do tumor, para mais tarde na cirurgia servir como orientação do sitio a retirar.

 

No fim voltei novamente para o corredor à espera que me viessem buscar. E passada uma meia hora lá vieram e me levaram para o quarto. Entretanto puseram-me um cateter para a tomada de soro e medicação. E fiquei à espera da ida para a sala de cirurgia.

 

Antes do meio dia vieram-me buscar novamente e lá fui eu novamente fazer uma viagem até à sala de cirurgia. Era agora. Havia uma grande azafama na sala cirúrgica, lembro-me perfeitamente de olhar para o relógio e ver que era exactamente meio dia (12:00) 

 

Vi quando começaram injectar algo pelo cateter e só senti o pescoço a apertar e apaguei. Agora estava tudo nas mãos da equipa médica.

 

Agora só me restava voltar a acordar. Afinal ainda tenho tanto para fazer e por isso não posso ir embora tão cedo. Os meus planos aqui na terra ainda não se concretizaram todos, ainda tenho muita para fazer, para ajudar os outros e para viver.

 

 

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29
Mar19

O dia mais angustiante

Just Be

Olá a todo(a)s

 

No dia 12 de Dezembro de 2018 tinha que estar no IPO às 08:00 para fazer um exame para a cirurgia do dia seguinte, e revelou-se

 

O dia mais angustiante da minha vida

 

A minha irmã mais nova levou-me até Coimbra e a partir do momento que sai do carro fiquei sozinha, achei que não fazia sentido ir ninguém comigo, afinal ia fazer exames e portanto poderia bem estar sozinha.

 

Lição que deixo aqui: não se faça de mais forte do que é. Eu levei até este dia a doença como se de uma gripe se tratasse. Todos me diziam como eu estava positiva e bem disposta e realmente estava. Mas neste dia desabou tudo.

 

Mas o que não nos mata só nos torna mais fortes e foi o que acabou por acontecer após a cirurgia.

 

Voltando ao dia em que o meu lado emocional desabou. Enquanto estava à espera para o exame na medicina nuclear onde iriam colocar um liquido radioactivo para a sentinela da axila, deparei-me numa sala de espera onde era a única que estava sozinha. Mas nesta altura ainda estava bem disposta.  Fiz o exame e de seguida fui fazer o internamento. Entretanto já eram quase 2 horas da tarde e fui almoçar. E devo dizer que o almoço estava simplesmente delicioso. Cabrito assado com batata assada e grelos. Nem parecia comida de hospital.

 

De seguida vou conhecer o meu quarto e deparo-me com uma enfermaria com 6 camas quase umas em cima das outras. Esta enfermaria era para 4 camas, mas devido à quantidade de doentes colocaram 6. Ir ao Roupeiro era quase tarefa impossível, pois a porta batia na cama. Eu fiquei do lado oposto, junto à janela. Depois foram-me mostrar onde era a casa de banho e explicaram que era do outro lado e que apenas existiam aquelas 2 casas de banho para todas as enfermarias daquele piso. Não podia acreditar como era possível apenas 2 casas de banho para tantas pessoas. E para piorar o chuveiro e sanita estavam no mesmo espaço. Portanto se alguém estivesse muito aflito e outra pessoa estivesse a tomar banho era um problema.

 

Entretanto dou conta que não tinha levado chinelos para o banho. Levei chinelos para o quarto, mas não levei para o banho e jamais iria tomar banho naquelas casas de banho onde o mesmo chão é do chuveiro e da sanita.

 

Nesse dia as voluntárias do IPO andavam lá a distribuir mantas às doentes e perguntei a uma delas se sabia como arranjar uns chinelos de enfiar no dedo ela disse que o mais que podia fazer era tentar me levar uns no dia seguinte.

 

Entretanto fui à enfermeira para ela ver se era preciso cortar pelos e deu-me um frasco e disse que à noite tinha que tomar banho com metade do frasco e a outra metade era para tomar na manhã seguinte. Resumindo precisava de chinelos para aquele dia.

 

Disse que ia comprar uns e disseram que já não podia sair do IPO. Comecei a entrar em desespero por causa de uns chinelos. Como vivi 20 anos em Coimbra e conheço bem a cidade, era fácil fugir.

 

Então fingi que ia tomar ar e dou por mim a andar direito a Celas à procura de Chinelos de verão em pleno inverno. Passei por 2 farmácias e não tinham. Entretanto encontrei uma loja de chinelos e a Sra que me atendeu foi à parte de trás e lá me arranjou uns chinelos de verão. Fantástico, tinha conseguido. De volta para o IPO antes que dessem pela minha falta. Estava mesmo a precisar de um banho de tão suada que estava. Valeu pela aventura.

 

Entretanto tive uma surpresa agradável, a voluntária do IPO apareceu lá com uns chinelos e eu quis pagar e ela não aceitou e disse que era prenda dela de natal. Ainda há pessoas boas no mundo. Não tive coragem de lhe dizer que já tinha comprado uns chinelos, pois o gesto foi tão bonito que fiquei sem palavras. Resumindo fiquei com 2 pares.

 

Quando fui tomar banho, estavam ambas as casas de banho ocupadas. À terceira tentativa lá consegui que estivessem livres, uma das casas de banho não tinha um cabide para pendurar a roupa lavada e a toalha,  como é possível isto? Perguntei a mim mesma. Vou colocar em cima da sanita? Fui à outra casa de banho e tinha um cabide. Lá coloquei a roupa que ia vestir a toalha e a roupa suja coloquei em cima do lavatório. Era desesperante a falta de condições até para tomar banho. Lá tomei banho, a água ia até à sanita porque não escoava bem. Enfim uma prova à nossa resiliência. Entretanto de cabelo molhado acabei por começar com uma dor no ouvido que não passava. E só pensava que dia este, que tudo me acontece.

 

Entretanto era hora de jantar e só pude comer uma sopa e uma pêra por causa da anestesia do dia seguinte. Depois finalmente acalmei de toda aquela azáfama e o medo invadiu-me de tal maneira que a minha vontade era de fugir dali para fora. Senti-me sozinha e desamparada. Talvez porque no meu quarto estavam todos com familiares e eu estava sozinha e isso tornou-me vulnerável e emocionalmente sem defesas, de tal forma que fui para um local onde não passavam pessoas e desatei a chorar...sim chorar...algo que raramente faço. Chorei tanto que até soluçava. Senti-me desesperadamente sozinha. Muito sozinha. E sozinha só para caminhar à beira mar e não num hospital publico sem condições básicas. 

 

Entretanto disfarcei o máximo que pude e voltei para o quarto. Tentei dormir...mas não consegui e chorei em silêncio no escuro.

 

No dia seguinte era o o grande dia. Dia 13.

 

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